Os povos indígenas das Américas, como astecas, maias, zapotecas e mixtecas, viam a morte como parte natural da vida, celebrando uma visita das almas dos ancestrais através de rituais simbólicos. Com a chegada dos colonizadores espanhóis, que não respeitavam a cultura dos colonizados e impunham seus próprios costumes, essas tradições se fundiram às práticas católicas, dando origem ao Dia dos Mortos, celebrado em 2 de novembro. Inicialmente realizado em agosto, o evento foi ajustado para coincidir com o Dia de Todos os Santos e o Dia de Finados.
As celebrações eram lideradas pela deusa Mictecacíhuatl, chamada de “Dama da Morte” (em espanhol: Dama de la Muerte), também associada à figura de La Catrina. A personagem La Catrina, de José Guadalupe Posada, um litógrafo político mexicano, representa uma dama da alta sociedade usando vestido e chapéu elegantes ao estilo europeu, esquecendo as raízes dos povos nativos do México, entre tantas outras conotações.
Durante o período colonial, apesar da tentativa de alterar os rituais, o Dia dos Mortos sobreviveu como uma fusão de simbolismos indígenas e cristãos, associada também ao ciclo agrícola, especialmente ao fim da colheita do milho.
Hoje, o Dia dos Mortos é uma celebração que honra os antepassados de forma alegre, com oferendas que conectam o material e o espiritual, transcendendo o conceito ocidental de morte e refletindo uma perspectiva em que vida e morte estão intrinsecamente ligadas.
Com as fronteiras abertas ao intercâmbio cultural, a festa se expandiu para várias partes do mundo.
História e significado das Festas dos Mortos
O Dia dos Mortos tem origem nas tradições indígenas da Mesoamérica (sul do México, Guatemala, El Salvador, Belize, Nicarágua, Honduras e Costa Rica). Nas culturas pré-hispânicas, a morte era parte de um ciclo natural, e os falecidos eram guiados até Mictlán, o “lugar dos mortos”. Para honrá-los, os familiares faziam oferendas com alimentos e flores, acreditando que o destino das almas dependia das ações do morto em vida.
Simbolismo nas festas de homenagem aos mortos
A celebração vai além da homenagem aos mortos, representando o retorno temporário dos espíritos desencarnados ao mundo dos vivos, uma breve visita aos familiares, amigos e até inimigos.
Os pratos favoritos dos mortos são preparados com muito carinho e colocados em um altar já decorado com flores e velas para guiar os espíritos e reforçar os laços entre vivos e falecidos.
Costumes e tradições culturais em homenagem aos mortos
A festa é tão tradicional que a população decora as casas, se fantasia, e transforma as ruas das cidades em festas coletivas. Passam pelo cemitério para conversar com os entes queridos, pois os astecas, maias, zapotecas e mixtecas acreditavam que os mortos poderiam, de algum modo, intervir na vida dos parentes e amigos vivos. É uma forma de lembrar as histórias da pessoa que está do outro lado da vida, sendo uma sincera homenagem.
Curiosidades sobre o Dia dos Mortos
Os astecas acreditavam em quatro destinos para os mortos: Tlalocan, o paraíso de Tláloc, reservado àqueles que morreram em circunstâncias relacionadas à água; Omeyocán, o paraíso do sol, para guerreiros e mulheres que morreram no parto; Mictlán, para os que morreram de morte natural, um lugar escuro governado pelos senhores da morte; e Chichihuacuauhco, onde as crianças mortas aguardavam para renascer quando uma nova raça habitasse a Terra.
O papel picado simboliza o vento e a fragilidade da vida, sendo destaque no Dia dos Mortos, adornando altares e ruas. Apesar de ser usado em diversas ocasiões, essa arte tradicional envolve a perfuração de camadas de papel de seda colorido com martelo e cinzel, após serem empilhadas. O processo resulta no papel artesanal mexicano conhecido como papel furado.
Festas dos Mortos pelo mundo
Algumas comemorações do Dia dos Mortos estão presentes na América Latina. Na Guatemala, por exemplo, a data é celebrada com pipas gigantes e o preparo do tradicional fiambre, enquanto no Brasil o Dia de Finados envolve visitas aos cemitérios com flores e orações. No Haiti, rituais vudu e tambores marcam a data, e em La Paz, Bolívia, o Dia de las Ñatitas inclui oferendas a caveiras em agradecimento pela proteção dos antepassados.
Nos Estados Unidos, o Dia dos Mortos é celebrado em várias regiões com grande presença de imigrantes mexicanos, como no Texas e no Arizona, onde as comemorações mantêm-se fiéis às tradições, com procissões e altares. Em Los Angeles, Califórnia, o festival ganha um tom artístico e político, com altares em homenagem a vítimas de guerra, como no centro Self Help Graphics & Art. São Francisco e Oakland também participam da tradição, promovendo eventos culturais e aulas de arte tradicional. Em Missoula, Montana, desfiles excêntricos marcam a data. Em Boston, o Forest Hills Cemetery abriga altares coloridos e performances folclóricas em memória aos falecidos.
O Dia dos Mortos ao estilo mexicano tem se expandido pela Europa, como em Praga, na República Tcheca, onde máscaras e caveiras de açúcar são usadas em celebrações apoiadas pela Embaixada Mexicana. Velas são acesas nos túmulos em países como Áustria, Croácia, Eslováquia, Eslovênia, Alemanha, Hungria, Lituânia, Noruega, Polônia, Romênia, Suécia e Bretanha, onde rituais envolvem deixar comida para as almas durante a noite. Na Espanha e Portugal, o Dia de Todos os Santos é marcado por oferendas e apresentações tradicionais, como a peça Don Juan Tenorio.
Antes da temporada de caça, na África, diversas comunidades realizam rituais que incluem a visita a sepulturas, onde oferecem alimentos e presentes aos ancestrais.
Na Oceania, celebrações repletas de flores e presentes decoram altares em Wellington, na Nova Zelândia, no Dia dos Mortos mexicano.
Na Ásia, há muitas festividades, como o Festival de Ching Ming, celebrado na China em abril, que é um momento dedicado à limpeza e homenagem dos túmulos ancestrais, enquanto o Festival do Duplo Nove ocorre em setembro, continuando essa tradição.
O Chuseok, também chamado de Hankawi, é um dos feriados mais importantes da Coreia. Durante essa celebração, as pessoas visitam os locais onde os espíritos de seus ancestrais estão consagrados, realizam cultos matinais e limpam as tumbas dos familiares. Além disso, oferecem alimentos e bebidas em homenagem aos antepassados.
No Japão, o Bon Odori é um festival budista que envolve danças e a volta das famílias às suas cidades natais para honrar os ancestrais, uma tradição que existe há mais de 500 anos. Em muitas culturas, esses rituais incluem refeições, músicas e orações, refletindo o respeito pelos que partiram.
No Nepal, o Gai Jatra envolve a construção de estruturas decorativas e a presença simbólica de vacas, que guiam os espíritos dos falecidos, permitindo a expressão artística e política dos participantes.
Nas Filipinas, o Araw ng mga Patay, celebrado em 1º de novembro, é um feriado de união familiar, onde as famílias se reúnem em cemitérios para limpar tumbas, acender velas e oferecer flores, muitas vezes acampando à noite.
Como organizar uma festa dos mortos mexicana
Monte um altar decorado de modo harmônico e alegre, com de dois a sete níveis, contendo objetos como: imagens de santos, fotos e objetos dos falecidos, velas, caveiras de açúcar, sal, frutas e flores.
Os esqueletos são um dos elementos mais tradicionais do Dia dos Mortos, muito usados nas decorações dos ambientes. A figura do esqueleto é reanimada com indumentária e, segundo a crença, são os anfitriões dos mortos para a festa na Terra.
As caveiras de doce são típicas no México, feitas de açúcar, limão e água quente. A decoração do doce fica a cargo da criatividade do confeiteiro, com flores e cores.
As flores não podem faltar na comemoração do Dia dos Mortos. Estão por toda parte e fazem referência à transição da vida. A espécie cempasúchil, para os astecas, era o próprio sol iluminando o caminho do falecido até o paraíso.
Preparem-se para receber a visita dos mortos com alegrias e honrarias.