Cartuxa- Vinhos e Azeites para fomentar a educação

Europa

Cartuxa- Vinhos e Azeites para fomentar a educação

POR Mary de Aquino

janeiro 15, 2025

A vinícola Cartuxa, parte da Fundação Eugénio de Almeida, representa não apenas a riqueza agrícola da região do Alentejo, mas também uma herança cultural profundamente enraizada em Évora. Ligada à história dos monges da Ordem Cartuxa e ao desenvolvimento vinícola e olivícola da região, a Cartuxa não apenas preserva tradições seculares, mas também as adapta para um contexto moderno. Vamos explorar suas raízes, o legado do Pêra-Manca e a inovação que molda o presente e futuro desta emblemática vinícola.

Fundada pela Ordem Cartuxa, famosa pela austeridade e dedicação ao trabalho manual e espiritual, a vinícola Cartuxa faz parte do legado da Fundação Eugénio de Almeida. Esta fundação, criada por Vasco Maria Eugénio de Almeida, atua na preservação de tradições culturais e no desenvolvimento da região de Évora. 

A Cartuxa surgiu oficialmente como uma vinícola comercial na década de 1980, mas a tradição vinícola local remonta há muitos séculos antes, atravessando gerações e transformando-se ao longo do tempo.

O Renascimento da Cartuxa 

Embora o Alentejo tenha uma tradição milenar de produção de vinho, a primeira safra moderna da Cartuxa é de 1986. Este marco representa uma nova era, em que a vinícola passou a produzir vinhos mais especializados, com castas selecionadas e práticas modernas. Este novo método elevou a produção de vinho na região, que sempre foi conhecida por suas talhas e métodos rústicos, alinhando-a às expectativas do mercado contemporâneo.

Pêra-Manca – O vinho mais almejado 

O Pêra-Manca Tinto é um dos vinhos mais icônicos da Cartuxa. Seu nome remonta a mais de 500 anos e está associado a Pedro Álvares Cabral, que levou o vinho em sua jornada ao Brasil. O nome “Pêra-Manca” deriva do significado “pedra manca” e refere-se a uma formação rochosa característica da região, de aparência instável e oscilante. Originalmente, a produção era conduzida pelos monges do Convento do Espinheiro. No século XVIII a Casa Agrícola Soares comercializa pela primeira vez um vinho com a marca Pêra-Manca, mas após a crise da Filoxera que assombrou a Europa no final do século XIX e início do século XX, a marca ficou esquecida. Em 1990, o herdeiro da Casa Agrícola Soares oferece a marca Pêra-Manca à Fundação Eugénio de Almeida com a condição de utilizar apenas para o seu vinho de maior qualidade. Hoje, o Pêra-Manca representa o topo da linha de vinhos da Cartuxa, respeitado pela alta qualidade e produção limitada.

A Produção e as Barricas de Carvalho Francês

Na Cartuxa, tradição e inovação andam de mãos dadas. Embora a vinícola continue a usar métodos tradicionais como barricas, a tecnologia moderna é essencial no processo. Na década de 1990, houve uma renovação dos métodos para garantir maior controle de temperatura e qualidade. Hoje, a Cartuxa possui 28 tonéis de carvalho francês, com capacidades variadas, onde cada vinho amadurece separadamente, segundo sua casta e características. Essa prática preserva as singularidades de cada uva, garantindo uma seleção cuidadosa para as marcas da vinícola.

Tapada de Chaves e a Recuperação de Vinhedos Históricos

Além da Cartuxa, a Fundação Eugénio de Almeida também adquiriu a Tapada de Chaves, uma vinícola histórica a cerca de 100 km de Évora, próxima a Espanha. Com vinhedos de mais de 120 anos, a Tapada de Chaves contribui para a recuperação e preservação de castas e técnicas quase perdidas no tempo, expandindo o portfólio de vinhos da fundação e solidificando sua presença no cenário vinícola português.

O Centro de Recepção e o Programa Especial de Enoturismo

Em 2009, a Cartuxa renovou seu espaço, transformando-o em um centro de recepção para visitantes e enoturistas, onde turistas podem conhecer em primeira mão o processo de produção dos vinhos e participar das atividades sazonais, como a colheita da uva. A Cartuxa também oferece programas exclusivos que incluem desde o estágio de vinhos em barris até degustações e visitas orientadas.

Azeites EA e Cartuxa

No mercado de azeites premium, destacam-se as marcas EA e Cartuxa, ambas produzidas com processo de extração a frio, utilizando uma única extração mecânica de azeitonas selecionadas. Esses azeites possuem acidez extremamente baixa: o azeite EA tem 0,3% de acidez, enquanto o Cartuxa apresenta 0,2%. Embora o processo de produção seja idêntico, ambos têm características sensoriais distintas, refletindo suas singularidades de sabor e uso.

O azeite EA é classificado como de corpo médio e é altamente equilibrado no paladar, sem apresentar sabores marcantes na boca. Essa neutralidade e harmonia fazem com que seja considerado um azeite versátil, podendo ser utilizado tanto em preparações frias como em pratos quentes. Sua leveza e perfil equilibrado são ideais para aqueles que buscam um azeite de sabor suave.

O Cartuxa, por outro lado, é um azeite de sabor intenso e frutado, com um gosto levemente amargo e picante, resultado da combinação de diferentes variedades de azeitonas. Esse azeite é recomendado para ser usado a frio, em finalizações de pratos, como saladas, massas, pães, peixes cozidos e bacalhau. Sua intensidade de sabor e personalidade forte o tornam ideal para realçar o paladar de pratos que não serão aquecidos.

O Terroir das Azeitonas

As azeitonas utilizadas nos azeites EA e Cartuxa são cultivadas em um terroir particular, com uma produção anual de aproximadamente 450 mil litros. A plantação irá ocupar 650 hectares, com 60% da área em sistema de cultivo intensivo. A marca trabalha com diversas variedades de azeitonas, como arbequina, cobrançosa, picual, galega e, em menor quantidade a koroneiki, o que garante uma diversidade de perfis sensoriais em seus azeites.

O Cartuxa e EA são azeites de alta demanda, especialmente em Portugal e no Brasil. Entre os países consumidores, o Brasil se destaca como o principal mercado externo da marca, evidenciando o interesse crescente dos brasileiros por azeites de alta qualidade e sabor marcante.

Essas particularidades, tanto no cultivo quanto nos perfis sensoriais, refletem o compromisso da marca em oferecer azeites que respeitam o terroir e as tradições, ao mesmo tempo que atendem às preferências dos consumidores em mercados exigentes.

A comercialização e o público brasileiro 

O mercado brasileiro tem sido um pilar significativo para a marca portuguesa Cartuxa, que, desde 1998, se estabeleceu no Brasil como um dos primeiros grandes produtores de vinhos portugueses a explorar esse crescente setor. Através de uma estratégia de distribuição abrangente e numérica, a Cartuxa garante atualmente a sua presença nos 27 estados do Brasil, fortalecendo a afinidade do público local com vinhos lusitanos de alta qualidade. Esse comprometimento também é refletido na criação de experiências exclusivas, como o lançamento da Safra 2018 do Pêra-Manca em São Paulo, em um evento direcionado ao público brasileiro. A marca, que investe constantemente em qualidade e acessibilidade no mercado, dobrou sua participação no Brasil, passando de 3 milhões de euros em 2018 para um faturamento estimado em 7,5 milhões de euros em 2024, firmando-se como um dos principais exportadores europeus para o país.

Entre os produtos mais renomados da Cartuxa para o público brasileiro estão os vinhos Cartuxa Colheita Tinto e Cartuxa Branco, além do icônico Pêra-Manca tinto e branco, cujas edições premium podem ultrapassar os 130 dólares. Já na linha de azeites, destacam-se as variedades extra virgem Cartuxa e EA, cada uma com características singulares. O azeite EA é valorizado por seu corpo médio e versatilidade, ideal tanto para uso a quente quanto para temperos leves. O azeite Cartuxa, por sua vez, oferece uma experiência mais intensa, com notas frutadas e um leve amargor picante, sendo especialmente indicado para finalizações frias, como saladas e pratos de bacalhau. Este cuidado com a qualidade e autenticidade dos produtos portugueses têm garantido a preferência do público brasileiro e mantido o interesse pelos vinhos e azeites Cartuxa.

 

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