As Vinhas e os Olivais do Alentejo

Europa

As Vinhas e os Olivais do Alentejo

POR Mary de Aquino

janeiro 13, 2025

Explorar o enoturismo no Alentejo é viver uma experiência verdadeiramente única e exclusiva. Com mais de 300 castas de uvas, a região proporciona uma autêntica viagem sensorial, onde cada cálice revela influências e aromas profundos, transformando cada degustação em um momento repleto de significado.
 
No Alentejo, historiadores sugerem que os tartessos foram os primeiros a cultivar videiras, eles formavam uma civilização que habitou a Península Ibérica entre os séculos IX a.C. e V a.C., resultante da fusão entre os povos nativos da área e colonizadores oriundos da Grécia e da Fenícia.
 
Dioniso e a mitologia grega
 
Dioniso era uma figura central na mitologia grega, que na romana recebe o nome de Baco, sendo reverenciado como o deus do vinho e do teatro, mas, na verdade, era um semideus. 
 
Segundo a lenda, Dioniso nasceu de um relacionamento entre Zeus, o rei dos deuses, e uma mortal chamada Sêmele. Zeus, famoso por seus inúmeros romances fora do casamento, despertava a ira de sua esposa, Hera, que se vingava de todas as amantes. Com a mãe de Dioniso não foi diferente. Sêmele, sem saber que seu amante era o próprio Zeus, foi envolvida numa armação de Hera que fez com que Zeus revelasse em toda sua glória. Então o poder e a luz de sua manifestação divina fulminaram Sêmele. Ainda assim, ela estava grávida, e, para salvar o filho, Zeus retirou o bebê de seu ventre e o costurou em sua própria coxa, onde ele cresceu em segurança até o momento do nascimento.
 
Após nascer, Dioniso foi levado para viver com sua tia Ino, que o escondeu da vingança de Hera. Ino e seu esposo, Atamante, criaram Dioniso disfarçado de menina para despistar a ciumenta deusa. Durante esse período, Dioniso também aprendeu sobre o cultivo das vinhas e o processo de fabricação do vinho com Sileno, um sábio ancião conhecido por seu gosto pela bebida.
 
Mais tarde, Hera reconheceu Dioniso como uma divindade, o que fez com que ele fosse aceito como um dos deuses do panteão olímpico. Parte da tradição mitológica diz que Dioniso teria embriagado Hefesto, o deus dos ferreiros, para que ele libertasse Hera de correntes que a prendiam. Assim tudo terminou em paz entre a madrastra e o enteado, que certamente terminaram brindando com um bom vinho grego.
 
Os Fenícios no Alentejo
 
A civilização Fenícia, localizada no norte da antiga região de Canaã (que corresponde ao atual Líbano, Síria e norte de Israel), se destacou no comércio e produção de vinho, essencial tanto para a economia regional quanto para cerimônias religiosas. Em sítios arqueológicos como Tell el-Burak, indícios revelam que o cultivo de videiras e a produção de vinho ocorriam em grande escala, principalmente para abastecer as rotas comerciais marítimas do Mediterrâneo oriental. 
 
A cidade de Sídon no Líbano, teve um papel fundamental na propagação do vinho por essa região, estabelecendo uma tradição que influenciaria mais tarde a Europa e o norte da África. Sendo posteriormente sucedidos pelos romanos e suas talhas. 
 
Compreender a presença fenícia em Portugal não é apenas uma questão de olhar para o passado, mas também de reconhecer as raízes de muitas das práticas e tradições que continuam a moldar a cultura portuguesa até hoje.
 
O Domínio do Império Romano no Alentejo 
 
O período romano no Alentejo ocorreu entre os séculos II a.C. e V d.C., época marcada pela queda do Império. Estes consolidaram a prática dos vinhedos na região, já bem desenvolvida pelos fenícios com suas técnicas avançadas de cultivo, expandiram o comércio de vinho alentejano para Roma, iniciando assim as primeiras exportações da história dos vinhos do Alentejo. Assim sendo, marcaram a cultura local com o uso das talhas de barro, técnica preservada até hoje, e a releitura da técnica está na moda no momento.
 
A presença muçulmana a partir do século VIII trouxe declínio ao cultivo da vinha, já que eles não consomem álcool. Só no século XVI, com a reconquista, os vinhedos voltaram a florescer, mas a crise retornou no século XVII quando o Marquês de Pombal privilegiou os vinhos do Douro, eliminando videiras em outras áreas, incluindo o Alentejo. Entre altos e baixos momentos e movimentos na década de 1970, com a união de produtores e a criação de denominações de origem, a viticultura no Alentejo só foi ascensão, e hoje é considerado um dos vinhos mais diferenciados do planeta, não só pela variedade e excelente na produção, mas pelas práticas de sustentabilidade.
 
Os Vinhos Alentejanos e a Sustentabilidade 
 
Para entender a excelência dos vinhos dessa região de Portugal é preciso entender o respeito que os produtores possuem pelo meio ambiente.
 
A produção de vinhos no Alentejo transformou-se profundamente nos últimos dez anos, impulsionada pelo Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo. Coordenado por João Barroso, o projeto promove práticas que buscam respeitar e preservar o ambiente natural. Uma das mudanças mais significativas foi a drástica redução do consumo de água nas vinhas e adegas, atingindo, em alguns casos, cortes superiores a 60% em cerca de cinco anos. O manejo das vinhas também foi reestruturado, com atenção especial à preservação da biodiversidade e dos ecossistemas: foram implantadas linhas de enrelvamento, zonas de tampão para abrigar espécies de insetos, mamíferos e aves que auxiliam na proteção da vinha. 
 
O solo passou a receber um cuidado intensivo, focado na preservação do dióxido de carbono e no estímulo a nutrientes naturais, sem o uso de derivados de petróleo. No combate a pragas, métodos integrados tornaram-se padrão, envolvendo a introdução de morcegos e insetos benéficos, além do uso de ovelhas para controle de ervas daninhas em períodos específicos do ano. A busca pela sustentabilidade também chegou às embalagens, com vários produtores abandonando o uso de cápsulas nas garrafas, reduzindo o peso do vidro e aderindo a materiais certificados de origem florestal sustentável, como rolhas e caixas com certificação FSC-OPFC. Além disso, há um esforço em integrar a igualdade de gênero nas empresas e fortalecer os vínculos com a comunidade local, por meio de parcerias com escolas e universidades e apoio a eventos comunitários. Estas iniciativas transformaram o Alentejo numa das regiões vinícolas mais sustentáveis de Portugal e da Europa, exemplificando uma conexão harmoniosa entre tradição vinícola e inovação ambiental.
 
Conheça uma das rotas criadas por Tiago Caravana, diretor de marketing dos Vinhos do Alentejo para essa experiência luxuosa e inesquecível, numa série inédita sobre os vinhos e azeites alentejanos:
 

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